segunda-feira, 30 de março de 2009

QUAL O TAMANHO DA FOME HUMANA?





É consenso pensar que, no reino animal, não se mata, mas se caça uma presa para se alimentar. A presa não está sendo morta; ela está sob as regras da Natureza. O animal está obedecendo ao processo natural de sobrevivência. A presa, que foi devorada pelo instinto de sobrevivência de uma espécie, se transformará em substratos que alimentarão as cadeias naturais e seus processos, fechando assim um ciclo natural. A fome dos animais, perto da fome humana, é ínfima. Um animal selvagem e irracional pode passar dias sem se alimentar, já o animal racional e civilizado não aguenta vinte e quatro horas sem comida. 

Pois, será que ele não fica sem se alimentar porque tem fome, ou porque a sua condição de ser racional está acima das outras espécies? A fome humana não se limita a um instinto de sobrevivência. A fome humana tem dimensões psicológicas e instintivas, que vão além das leis da sobrevivência. Quando o homem está matando uma foca indefesa, ele está matando a própria fome, independentemente da função que o homem venha a dar à foca; a foca morta estará saciando a fome do homem. Porque toda atividade humana tem como objetivo matar a própria fome. Criar beleza é matar a própria fome por beleza. Criar leis é matar a própria fome por poder, e, às vezes, essas leis operam também em prol de justiça. Criar riqueza é matar a própria fome por bens materiais. Criar religiões é matar a própria fome por fé.

Portanto, essa carência humana precisa ser monitorada constantemente, para que o ser humano não devore uns aos outros de forma irracional. Se há, de fato, um instinto que regula as necessidades dos seres vivos na Terra, o instinto humano é um dos mais dúbios. O tênue limite entre racionalidade e irracionalidade confere ao ser humano a qualidade de uma espécie mais forte, e, como espécie mais forte, precisa se alimentar para se manter no topo da hierarquia; porém, a fome humana é ilimitada. Talvez a fome humana tenha uma função na cadeia natural. A Natureza não é um núcleo acabado, mas sim um processo em curso e decurso.

terça-feira, 24 de março de 2009

KAIRO - DE KIYOSHI KUROSAWA

Depois de ficar um bom tempo sem escutar música, agora estou há um bom tempo sem ir ao cinema. Entretanto, não deixei de ver os trailers dos filmes. As razões que me levaram a ficar sem escutar música e a deixar de ir ao cinema são claras para mim; porém, permanecerão em silêncio. Não sou do tipo que acha que tudo tem um motivo e, por isso, merece uma teoria; não quero falar sobre as razões que me afastaram temporariamente da música e agora das salas de cinema. Apesar de ser um bom tema, não tenho a menor intenção de me estender sobre ele, nem de escrever a respeito. Portanto, deixo o filme Kairo, do diretor Kiyoshi Kurosawa.