
Engraçado que escrevi um texto para postar no Natal, mas fiquei me autocensurando, achando que estava magoando os sentimentos daqueles que ainda creem no Natal. Mas o Natal passou, e a autocensura também passou. Então, posto o texto que era para ser postado no Natal, posto até mesmo porque este é o último ano do mundo, e como não haverá mais mundo, vou aproveitar o que ainda existe.
Segue o texto: Se Deus existe, é possível que ele goste de mim, ou me odeie por eu desacreditar na sua existência. E, para me castigar, ele me deixa vivo. Mostra-me que seu reino cresce a cada dia que passa. Neste Natal (de 2011), a revista Playboy, acho eu, com o consentimento divino, estampa em sua capa, para a felicidade dos lobos, a anjinha da filha de Monique Evans, a Bárbara Evans. Pena que, depois que passei a consumir Coca-Cola e energético, perdi o meu libido, e não poderei devassar a anjinha da Bárbara Evans.
A mãe, Monique Evans, eu comi várias vezes, com a satisfação de um lobo, protegido pelos ladrilhos dos banheiros, que me serviram de exílio. Mais um Natal, e quando não se gosta da ideia de que, nessa data, nasceu um menino chamado Jesus, e também não se encontra nada que possa salvar da vida, nem mesmo as guloseimas natalinas, ou uma festa no meio do mato que exalta o êxtase tribal, a melhor coisa a fazer, acho eu, é ficar em silêncio. Revoltar-se contra a vida só leva ao nada. Então, aconselho aos fortes e aos fracos, que passam pelos apuros da adjetivação dessa data festiva: fiquem em silêncio. Não emitam juízos sobre a vida, porque vocês podem sofrer os percalços do nada. Não fume crack, não cheire e não se aplique cocaína, ou heroína, pois cheirar e fumar fará você perder a sensação de que a vida é uma merda, e que essa data é um paliativo aos odores podres dos ideais humanos. Por isso, a coisa mais importante da vida é ver e sentir o infinitivo que ela é. Caso encontre o autor deste texto em alguma ceia de Natal, não se assuste, ele sofre de transtorno bipolar.
Portanto, não peça benção aos santos, porque a glória dos santos é feita de transtorno bipolar. Nem faça meditação, porque você corre o risco de se tornar mais bizarro do que David Lynch. Nem caia na loucura de ser budista, porque isso criará a falsa sensação de que é a religião mais bela do mundo. E acreditar que o budismo é uma bela religião é um grande perigo. Encontre, pelo menos, um meio de ter uma fonte de renda que não dependa da bondade ou da corrupção alheias. Se alguém sorrir para você, não devolva o sorriso espontaneamente, pense no sorriso que você dará. Existem tantos risos.
E se for sorrir para um chato, ou para um especialista (construtores burocráticos), que acha que arte e economia salvam a vida, ou então, sorrir para um otimista, que acha que viver é decorar as coisas feias da vida com presépios natalinos, ou ainda, sorrir para um pessimista, carente em uma noite de fraqueza, tome mais cuidado, pois são mais perigosos do que a anjinha da Bárbara Evans. A noite de Natal é a noite em que os animais políticos mais se odeiam, mas é Natal, e, por isso, os animais políticos não se matam. Do ponto de vista otimista, o Natal serve para confraternizar nossa hipocrisia e refiná-la em requintes elegantes, que só os animais políticos são capazes. Viver é um ato subjuntivo.