
A chamada geografia de "gentileza e tolerância" que se tornou o Brasil é, na verdade, uma falésia composta de precipícios. Os povos que tentaram escalar essa falésia "relacional" que foi, e ainda é, o Brasil, regaram o chão desse abismo territorial com a cumplicidade das dialéticas e das retóricas colonizadoras. Pois os povos que construíram este território que passou a ser chamado de Brasil, desenvolveram-no com o chicote paternalista dos portugueses, a tão falada “gentileza e tolerância” racial. Apesar do território ser desconhecido por todos que aqui chegaram - exceto pelos índios – essa gentileza nasce, não através de uma comunhão pacífica, mas sim pela comunhão da violência.
A convivência de índios, africanos, europeus e outros povos em menor número nesse espaço essencial que passou a ser chamado de Brasil, administrado sob a ótica dos portugueses, gerou uma geografia de lutas e de construção de uma nova identidade, cuja memória afetiva é confusa. Exemplos visíveis desse estado dúbio estão em nossa relação como Nação. Qual a razão que nos leva a queimar nosso potencial enquanto seres humanos em folias irresponsáveis enquanto tudo está indo para o brejo? Pois a dubiedade atinge a todos, não deixando de fora a elite. Essa dubiedade geral alimentou e ainda alimenta nossa resignação, cultivada no silêncio da História do Brasil.
Alguns homens, vestidos de uma visão científica e distantes de um compromisso real com as causas que a prática colonizadora causou aos povos que aqui chegaram e se fundiram, diriam que não temos uma herança de traumas psico-históricos, que tudo ocorreu dentro de um processo transformador, que até trouxe melhorias aos povos ditos primitivos. E essas melhorias seriam a condição para sairmos de um povo selvagem e passarmos à condição de um povo gentil e tolerante.
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