Por Adu Verbis
No mundo mediático e político, o que mais sabem fazer é distorcer contextos e fatos para tirar proveito político das distorções, sob o pretexto de ser progressista ou conservador. Os polos progressista e conservador acabam, de certa forma, sendo faces da mesma moeda. E quando o assunto é distorcer conceitos e contextos, tanto progressistas quanto conservadores têm um time de plantão, já que a vida nas redes sociais funciona 24/7 e, portanto, qualquer sinônimo, pode acabar se tornando uma arma contra a fulano e/ou a favor de beltrano.
Pois, a luta feminista tem como eixo central a erradicação do machismo, da violência contra a mulher e a superação das desigualdades estruturais que persistem em diversas esferas da sociedade. Reduzir esse debate a uma disputa sobre se chamar uma mulher de bonita é misógino ou machista, de fato, desvia o foco das verdadeiras urgências: combater a violência, a desigualdade e a misoginia institucionalizada em todos os setores.
A violência de gênero, em suas múltiplas formas — física, psicológica, sexual e econômica —, continua sendo um dos principais desafios enfrentados pelas mulheres. Dados da ONU Mulheres apontam que uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência de gênero. No Brasil, os índices de feminicídio são alarmantes, evidenciando a necessidade de políticas públicas eficazes e do fortalecimento das redes de apoio, e tudo isso está longe de ser bonito.
Além da violência direta, a desigualdade econômica é outro pilar da opressão. A disparidade salarial entre homens e mulheres persiste, assim como a sobrecarga do trabalho doméstico não remunerado. Mulheres enfrentam mais dificuldades para ascender profissionalmente e, em muitas ocasiões, são submetidas a condições de trabalho mais precárias, o que também não é bonito, nem bonito de forma alguma.
Enquanto isso, setores conservadores, misóginos e violentos, e setores progressistas com seus vícios epistêmicos (disposições intelectuais que distorcem o entendimento por meio de arrogância intelectual ou parcialidade ideológica) tentam reduzir o debate feminista a uma fala de Lula, na qual ele diz: "Essa mulher bonita", referindo-se a Gleisi Hoffmann. Isso desvia o foco das questões essenciais e urgentes, desviando a atenção da violência diária que as mulheres sofrem. No entanto, a fala de Lula tem um contexto, o de combater uma fala misógina de Bolsonaro, que afirmou que "mulheres petistas são ‘feias’ e ‘incomíveis’". Ora, o feminismo não se opõe à beleza ou à vaidade, mas sim à imposição de padrões que limitam a autonomia e perpetuam a objetificação das mulheres.
O combate à violência e à desigualdade exige comprometimento coletivo, mudanças estruturais e a desconstrução de discursos que desviam a atenção das reais necessidades das mulheres. A luta não é contra a beleza, mas contra um sistema que subjuga e silencia. Mais do que nunca, é preciso reafirmar que a prioridade é garantir dignidade, segurança e equidade para todas.
Além disso, não se deve instrumentalizar a figura feminina para fazer ataques políticos oportunistas. Críticas ao governo devem ser feitas com base em questões estruturais e fatos, não por meio de discursos que, contraditoriamente, acabam reproduzindo o machismo que se pretende combater. Fazer política é essencial, mas cair em contradições que enfraquecem a luta não é uma opção e não é bonito nem bonita.
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